AFARAM



>EM QUE CONSISTE A INTERVENÇÃO CÍVICA DA AFARAM?

>As associações de que a AFARAM é exemplo surgiram especialmente vocacionadas para o processo de reabilitação psicossocial e reinserção social dos doentes. Dentro desta orientação cívica geral há quatro vertentes a destacar:
a) Utentes – as pessoas com doença mental severa e persistente que gozam de alguma estabilização clínica; b) Famílias; c) Comunidade em geral; d) “Advocacy”.

Os utentes que procuram a ajuda da AFARAM têm em geral um historial de crises psiquiátricas, por vezes com vários internamentos hospitalares, de maior ou menor duração. Deixaram de ter uma vida normal na família e fora dela, com perda de amigos, com normal interrupção dos estudos ou perda do emprego, vulgar perda de auto-estima e motivação de vida, arrastando um dia a dia de inacção, sem esperança, sem convivência, sem horizonte de mudança, sem qualquer projecto de vida, uma situação de maior ou menor exclusão. Estes efeitos decorrem dos défices causados pelas doenças (depressão, doença bipolar, esquizofrenia, ansiedade generalizada,
perturbação obsessivo-compulsiva, fobias, etc.) e das acrescidas consequências dos internamentos, propiciadores de perda de convívio e isolamento social. São doenças causadoras de limitações funcionais, a nível individual e social, geradoras de forte desvantagem e capacidade diminuída para que se possa ter, sem reabilitação psicossocial, um processo de vida como o comum das pessoas. A experiência demonstra que estas doenças não se tratam só com medicamentos. São muito importantes e em regra imprescindíveis, mas tal reabilitação apresenta-se como uma efectiva componente do que deve ser um tratamento abrangente. É tal componente que a AFARAM procura assegurar, sem descurar a devida atenção à assistência médica e aos medicamentos.
As famílias podem encontrar ajuda para as suas necessidades, através de acolhimento, disponibilidade empática para as ouvir, compreensão, respeito, atenção, aconselhamento, convívio, um clima de confiança, passar a ver a doença do seu familiar com outros olhos, saber aceitar a doença sem se deixar esmagar por ela, adquirir competências para saber lidar com muito diversas e difíceis situações (stress e outra carga afectiva e emocional, eventual agressividade, gestão de conflitos, a incerteza acerca do futuro, carências económicas, etc.). É ainda muito relevante a informação qualificada que a associação pode facultar. Espera-se que em breve se possa dispensar também apoio domiciliário, o que até aqui só tem sido possível em casos excepcionais.

A comunidade em geral assume extrema relevância. Para que ocorra a mais completa inserção possível na comunidade, esta deve ser informada e sensibilizada a propósito dos ex-doentes e pessoas estabilizadas. Basicamente, requer-se da comunidade uma dupla atitude: por um lado, uma postura de aceitação (e não de cega rejeição ou exclusão); por outro, uma atitude de esclarecidas humanização, solidariedade e colaboração bem pró-activa. Uma representação social da doença mental dominada por mitos grosseiros, sem fundamento, impróprios da época em que vivemos, alimentam o estigma e a discriminação e estes são os maiores obstáculos à reinserção social (na família, na vizinhança, na educação, na habitação, na formação profissional, no laser, no emprego, etc.). É a consciência plena deste circunstancialismo que justifica exactamente a iniciativa da AFARAM com o título “Saúde Mental: Oito Dias de Reflexão”).

A “advocacy” é a postura sistemática de defesa de direitos, interesses e qualidade de vida de utentes e famílias. Trata-se de algo que vivemos como um imperativo ético.


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